No dia seguinte deu Daniel a lição do costume, e às cinco horas recebeu ordem de se retirar - ordem, cuja execução, como era natural, não se fez esperar muito.
Ele a voltar costas, e o reitor a pôr o chapéu na cabeça para lhe ir na pista.
A tarefa não era fácil; basta lembrarmo-nos da agilidade de Daniel, natural à sua idade, e compará-la com os já trôpegos movimentos do velho padre, que, com a pressa que levava, impelia todas as pedras soltas do caminho.
Foi seguindo direito pelas ruas que o conduziam a casa de José das Dornas, e perguntando a quantos conhecidos encontrava, sentados pelas portas ou debruçados nas janelas, se tinham visto passar o pequeno. Por muito tempo foram as respostas afirmativas, o que satisfazia o reitor, pois indicava-lhe que, até àquele ponto, o rapaz não se havia extraviado, deixando de seguir o caminho de casa.
Chegou porém a um largo, onde desembocavam diferentes ruas e azinhagas, e as coisas mudaram então de face.
O reitor, continuando a seguir o seu sistema de indagações, tomou a direcção que devia mais prontamente conduzir o pequeno Daniel aos lares paternos.
À porta de uma casa térrea que havia na esquina, dobava uma velha, a qual, ao ver aproximar-se o reitor, ergueu-se, com toda a cortesia, da cadeira em que estava sentada.
- Muito boas-tardes, tia Bernarda. Diga-me, viu passar por aqui o pequenito do José das Dornas?
- Nosso Senhor venha na companhia de V. S.ª. Pois nada, não senhor, Sr. Reitor. O rapazinho passava dantes por aqui todas as tardes; mas haverá coisa de quinze dias, ou três semanas, que já o não tenho visto.
O reitor pôs-se a coçar na orelha. O delito principiava a fazer-se evidente.
- Esta agora! - murmurava ele deveras zangado, e depois acrescentou mais alto: - E eu que me esqueci de lhe dar um recado para o pai! Diacho!
- Se V.