S.ª quer, eu mando lá a minha neta.
- Nada, não; obrigado. A coisa também tem tempo. Fique-se com Deus, tia Bernarda, e agradecido.
- Nanja por isso, meu senhor. - E a velha fez nova reverência.
- Temos história - dizia o reitor franzindo o sobrolho e tomando por outro dos caminhos que comunicavam com o largo. - Perguntemos aqui - e parou junto de um alpendre rústico, debaixo do qual estava sentado um velho quase paralítico, que procurava nos raios do sol o calor que lhe escasseava nos membros, já regelados pela idade.
- Boas-tardes, tio Bonifácio - disse o reitor, elevando a voz e parando defronte dele.
- Sr. Padre António, um criado de V. Rev.ma.
- Sabe-me dizer, tio Bonifácio, se o pequeno do José das Dornas passou há pouco por aqui?
O velho, já meio surdo, fez repetir a pergunta em tom mais elevado, e, depois de um momento de silêncio, durante o qual pareceu interrogar a memória, já perra e enfraquecida:
- Sim, senhor, vi - respondeu, acenando afirmativamente com a cabeça. - Vi, sim, senhor. Passou aqui com os bois, há meia hora.
- Com os bois!... Ai, esse é o Pedro. Falo no pequeno, no Daniel.
- Ah!... nada... esse... ah! sim, sim... um que anda nos estudos?
- Esse mesmo.
- Sim, pelos modos que... agora neste instante passou ele a correr, para o lado dos açudes.
- Obrigado, tio Bonifácio.
- O mafarrico do rapaz que terá que fazer para o lado dos açudes? - dizia o padre consigo, tomando a direcção indicada. Efectivamente, pelo novo caminho que seguia, iam-lhe dando informações de Daniel, acrescentando de mais a mais que, havia coisa de duas semanas, era ele certo por ali todas as tardes.
O reitor dava-se a perros, para atinar com o motivo de semelhante rodeio.
- Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo! Para que virá o rapaz dar esta esquisita volta!
De certo ponto por diante falharam-lhe as informações, porque o sítio tornava-se quase despovoado.