As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 18: XVIII Pág. 124 / 332

ª Joana.

Ao descobrir o prato da carne assada, exclamou João Semana, em tom de satisfação manifesta:

- Que tentação me desperta este terceiro inimigo da alma!

A criada riu-se, mas observou:

- Não diga isso! Santo António!

- O quê? Então você não sabe o que disse aquele frade, quando estavam a jantar? Nos conventos era costume, enquanto se comia...

- Ó Joana, deixe-me ver esse limão - ocupar-se algum frade com leituras devotas. - E vá-me deitando aí mais vinho. - Um dia, a comunidade escutava de um desses reverendos... - O diabo desta faca não corta nada... - um sermão sobre os perigos aos quais os viventes andam sujeitos neste vale de lágrimas. - Olhe, chegue para aqui essas azeitonas. - Vede, irmãos, dizia o tal frade... - Este ano as batatas não foram grande coisa -... vede como é difícil fugirmos às tentações dos três grandes inimigos da alma. - Ó Joana, o padeiro está servindo mal; não tem senão côdea de pão. - O mundo e seus encontros perigosos; o diabo e seus poderes maléficos e a carne, ai, meus irmãos... e a carne e suas tentações mágicas.

- Chegando a este ponto, o frade pousa o livro, suspira, estende o prato ao seu vizinho fronteiro, dizendo: - Tão fortes são que nem lhe resisto eu, pobre pecador; uma posta desse terceiro inimigo, que tão bem assado está.

Gargalhada da criada e vitória formal de João Semana sobre o inimigo em questão.

À sobremesa o mesmo sistema. A pêra de amorim atraiu um elogio do facultativo e mereceu as honras de um caso.

- Excelente fruta! - disse João Semana, ao comer a duodécima.

- Tinha razão aquele frade que do púlpito dizia: «Ó meus amados ouvintes, que miserável é a condição humana! Vede como a desgraça do mundo veio de uma má tentação! Eva perdeu-nos por uma maçã! Se ao menos fosse por uma pêra, meus fiéis ouvintes, ainda se poderia desculpar, mas por uma maçã!» - Ora! Essa é sua, Sr.





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