Menos espirituosa, porém mais filosófica do que a nomenclatura culinária da moda, a nossa, a tradicional, realizavam o desideratum a que todas as nomenclaturas aspiram - o de valerem por definições.
Se um conviva tinha a curiosidade de perguntar ao seu anfitrião o que continha este ou aquele prato, uma só resposta o satisfazia:
era um frango guisado, um peru recheado, uma língua de vaca, afogada... coisas que toda a gente entendia logo. Hoje, a primeira resposta é um nome francês, bárbaro, absurdo, que, contra promessas da gramática, não dá a conhecer a coisa, nem as suas propriedades; por isso uma segunda pergunta é inevitável; a não querer cada qual resignar-se a comer o que não sabe o que é - tormento insuportável.
Hoje, época de programas, inventaram-se os programas dos jantares, à imitação dos concertos, dos deputados e dos ministros.
Com oito dias de antecipação publica-se o elenco de um banquete, para que cada qual procure decifrar o que vai comer, e estude a maneira por que se come.
João Semana é que nisto, como em tudo o mais, não queria saber de modas.
E senão vejam-no desta vez esgotar a tigela avolumada de substancial caldo de abóbora, aviar a formidável posta de carne cozida, com presunto, acompanhando-a com o indispensável arroz, salada de alface e azeitonas; atacar, com igual denodo, uma porção de roast-beef, não revendo sangue sob a faca, à moda inglesa, mas portuguesmente assado, e como estou convencido assavam os seus carneiros aqueles heróis da Ilíada; tudo isto acompanhado de excelente vinho palhete, o qual ele ingeria aos copos de meio quartilho; em seguida uma carregação de peras de amorim, sem conta, peso, nem medida...
Durante o jantar não estivera calado João Semana.
Cada prato suscitara-lhe uma reflexão crítica, um discurso laudatório, ou uma anedota que fazia rebentar de riso a Sr.