As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 23: XXIII Pág. 157 / 332

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- Que faça versos à Lua e ao Sol, se quiser - dizia João da Esquina - não há-de tirar disso grande proveito, mas que os faça, que os faça; agora andar a inquietar famílias e...

- Tem razão, vizinho, tem razão, e eu lhe prometo...

- Abusar da confiança de um homem, como eu!

- Tem muita razão, vizinho...

- Fazer andar à roda a cabeça de uma rapariga de juízo!

Neste ponto José das Dornas engoliu em seco, mas não deixou de repetir:

- Tem toda a razão, vizinho...

- É um desaforo!

- Não o nego, Sr. João, não o nego.

- Não é homem em quem a gente se fie.

- A falar a verdade... não é, não, não é.

- Enfim, Sr. José - continuou o tendeiro com ar resoluto, e, depois de uma pausa, concluiu: - É forçosa uma satisfação!

- Eu lhe prometo que o rapaz não volta lá.

João da Esquina fez um gesto de quem se não lisonjeava com a promessa.

- Não é isso que eu digo.

- Então?

- O vizinho sabe o que são bocas do mundo?

- Sim; e depois?

- O que são línguas chocalheiras?

- Sim; e daí?

- O que são...

- Vamos; adiante.

- Pois bem; para as fazer calar, é preciso...

- É preciso o quê?

- É necessário...

- É necessário o quê?

- É indispensável...

- O quê, Sr. João, o quê? - exclamou o lavrador, já impaciente.

- O que é necessário?

- Que seu filho...

- Que meu filho?

- Case...

- Com a sua filha, não?

- Está bem de ver.

Com grande escândalo do tendeiro, o José das Dornas pôs-se a cantarolar:

Ai, la ri lo lé la, Eu vou pela mansidão.

- E foi para isso que teve o trabalho de vir aqui? Ora olhe, Sr.

João: nós somos conhecidos antigos e eu macaco velho, como deve saber, que já me não deixo levar por essas. Aqui para nós, porque não tapou o vizinho





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