- Vá vendo.
- Homem! - exclamou José das Dornas estafado de leituras.
- Pouco falta. Está a acabar - respondeu o outro.
José das Dornas resignou-se e prosseguiu:
Trigueira! E choras por isso!
Choras, quando outras te invejam
Essa cor, e em vão forcejam
Por, como tu, fascinar?
Ó louca, nunca mais digas,
Nunca mais, que és desditosa,
Invejar a cor da rosa,
Em ti, é quase pecar.
- Ó Sr. João! Eu não posso mais! - exclamou José das Dornas, com acento lastimoso.
- É só um, agora; e acabou.
- Mas...
E, ficando na reticência, José das Dornas tomou fôlego para ler ainda:
Trigueira! Vamos, esconde-me
Esse choro de criança.
Ai, que falta de confiança!
Que graciosa timidez!
Enxuga os bonitos olhos,
Então, não chores, trigueira.
E nunca desta maneira
Te lamentes outra vez.
- Buff! - bradou José das Dornas, ao terminar a leitura, e limpando o suor, que o banhava.
- Leu? - perguntou o tendeiro.
- Sim, senhor. Estão bonitos. São seus, Sr. João?
- Meus?! - exclamou o tendeiro, escandalizado quase. - Isto é mas é uma receita do nosso médico novo.
- Hem! - disse José das Dornas, parecendo-lhe que não ouvira bem - diz vossemecê que é?...
- Outra das lembranças do senhor seu filho.
- Do... do meu... do Daniel?!
- Sim, senhor. Do Daniel.
- Pois o rapaz fez isto?!
- Era com essas e outras, que ele andava a tratar a minha filha. O culpado fui eu, que lhe dei entrada em casa.
José das Dornas esteve a deixar escapar uma gargalhada, mas conteve-se prudentemente.
- Ó vizinho, por quem é, não ande por aí a dizer essas coisas, que me desacredita o rapaz. Olhem se o João Semana o sabe! Um médico-poeta! Para que diabo lhe havia de dar.