As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 31: XXXI Pág. 223 / 332

Era Daniel.

- Olha; falai no ruim... - disse ela para Margarida, que instintivamente retirou a cadeira da janela.

- Vais ver - prosseguiu Clara - como eu sou amiga de fazer vontades. Vou acabar com isto, já que assim o querem... isto é, já que assim o queres; pois dos outros bem me importava a mim.

- O melhor é... - ia a dizer Margarida, quando a voz de Daniel, falando da rua para a janela, a obrigou a calar.

- Muito boas-tardes, Clarinha - diz ele. - Receava não a ver já hoje, por isso obriguei este pobre animal a um trote por estes caminhos de cabras abaixo, que muito pouco lhe agradou.

- Então tinha que me dizer?

- Nada. Era para não perder o meu dia. Quando vi fechadas as folhas da mimosa da Quinta da Freira, temi vir encontrar já fechada também a sua janela, Clarinha.

- Era pena! - disse Clara, sorrindo e depois, debruçando-se ao peitoril, acrescentou, lançando com disfarce um olhar para a irmã: - Tenho a pedir-lhe um favor, Sr. Daniel.

- Que felicidade para mim! Diga.

- Quando, de hoje em diante, voltar para casa, não há-de vir por este sítio.

- Clara! - disse Margarida em voz baixa, puxando pelo vestido da irmã.

Clara não a atendeu.

- Porque me faz esse pedido? - perguntou Daniel admirado.

- Porque, segundo me dizem, deram-lhe para reparar por aí nestes seus passeios e então, para não inquietar o mundo...

- Clarinha, que estás a dizer! - murmurava Margarida, escondendo-se por detrás da irmã.

Clara fingia não ouvi-la.

- Tenho-a ofendido por acaso alguma vez? - perguntou Daniel.

- Em coisa nenhuma. Bem vê que eu digo que é pelo mundo...

- Então, deixe falar o mundo.

- Não é tanto assim. Talvez o fizesse se não fosse noiva; parece-me até que o fazia; mas assim.





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