As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 32: XXXII Pág. 226 / 332

Imagine-se uma boca de mina, aberta na base de pequeno outeiro, que, todo assombrado de pinheirais, se prolongava a distância, na direcção do norte da aldeia; uma telha, meia quebrada, servindo de bica; e, a receber o abundante e inesgotável jorro de água límpida, a bacia natural, por ele mesmo cavada, e onde à vontade vegetavam os agriões, ávidos de humidade.

Do pinhal sobranceiro descia-se à fonte por alguns degraus grosseiramente abertos, havia muito tempo, no terreno saibroso do outeiro, e aperfeiçoados pelo trilho quotidiano dos que se serviam dos atalhos do monte com o fim de encurtar distâncias dali a diversos pontos da aldeia.

Ao lado, e separado alguns passos da fonte, abria-se um desses enormes barrancos, rasgados pelas torrentes de sucessivos invernos e cuja entrada quase disfarçavam os troncos robustos dos fetos, e das giestas que, crescendo livremente, haviam atingido proporções quase tropicais.

Quando Clara chegou à fonte, não havia ninguém.

A cantar, aproximou-se dela e, ajoelhando, principiou a encher o cântaro de barro que trazia.

A água caiu ao princípio ressonante no interior do vaso; depois amorteceu gradualmente o som, à medida que subia o nível do líquido; este dentro em pouco transbordava.

Clara ia levantar-se. Na posição em que estava, tinha voltadas as costas para a entrada do barranco. Neste momento pareceu-lhe ouvir algum rumor daquele lado.

Não foi superior a vago sentimento de susto. Voltou-se inquieta.

Deu com os olhos numa forma escura, e em breve reconheceu mais claramente ser um vulto de homem, que se aproximava dela.

Soltando um grito, Clara ergueu-se de súbito para fugir.

Segurou-a a tempo um braço e falou-lhe uma voz conhecida:

- Que vai fazer? Não se assuste.





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