As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 34: XXXIV Pág. 246 / 332

.. Talvez que tenhas razão - continuou, fitando Margarida com olhar de bondade e quase de respeito, e acrescentou a meia voz: - Seja como quiseste, como Deus to inspirou decerto. - Depois, voltando-se para Pedro: - E que tens mais que ver aqui, homem?

- Tenho que pedir perdão a todos.

O reitor empurrou-o amigavelmente pelos ombros, dizendo-lhe:

- Vai, vai. Deixa isso para outra vez. Não temos agora vagar para justificações.

- Mas, Sr. Reitor...

- Então! Vai para a tua vida, Pedro. E não me andes mais de espingardas, que são más companhias.

Dando depois com os olhos nos poucos espectadores desta cena, que se conservavam boquiabertos à porta, exclamou todo irritado:

- E vocês que fazem aí, pasmados? Quem vos chamou cá? Não sois tão prontos para o trabalho. Andar! e ter cautela com a língua.

Ouviram?

Pedro saiu cabisbaixo. Os grupos dispersaram-se.

Logo que os viu retirar, o padre levantou Margarida, que se conservava de joelhos quase exânime, e disse-lhe comovido:

- Foi um sacrifício heróico, Margarida, para o qual poucas teriam fortaleza.

- Um sacrifício?!...

- Sim, não é a mim que iludiste, filha, que te conheço bem e há muito. Vai ter com a verdadeira culpada...

- Não a condene, Sr. Reitor; o seu anjo bom não a abandonou, ainda desta vez.

- Bem sei - respondeu o reitor. - Pois não te vejo eu aqui?

Mas vai e acaba a tua obra abençoada, confortando-a e chamando-a ao caminho do arrependimento. Eu também tenho a minha tarefa.

E dou graças a Deus por ter permitido que os meus deveres paroquiais me conservassem por fora até estas horas. Até amanhã, minha filha.

E o reitor saiu, mas em vez de tomar o caminho de casa, voltou em direcção oposta.





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