- Margarida - disse-lhe ele, trémulo de incerteza e de esperança - fale-me a verdade. Em nome de Deus, diga-me; quem estava aqui com Daniel? Diga-me, diga-me tudo, pelo Salvador!
Houve um momento de silêncio. Margarida parecia hesitar; por fora da porta apareciam já alguns rostos de curiosos, que chegavam atraídos pelo ruído.
- Quem estava aqui com Daniel? - repetia Pedro.
Na alma de Margarida alguma coisa se passou de terrivelmente doloroso, que quase a fez desfalecer.
Fechando os olhos, como quem adopta uma resolução desesperada, como quem se despenha num abismo, respondeu com voz trémula, mas perfeitamente inteligível:
- Era eu!
A turbação em que estava não lhe impediu de perceber o sussurro de vozes que, de fora da porta, acolheu esta resposta.
Pedro, alheio a tudo o que o rodeava, ergueu as mãos para o céu; e rebentando-lhe as lágrimas dos olhos, exclamou:
- Bendito seja Deus! Sirva de remissão dos meus pecados o tormento destes poucos instantes!
Quando o pároco chegou, encontrou-os nesta posição.
Caminhou com rosto severo para a mulher que via ajoelhada, mas recuou também, espantado, ao reconhecer Margarida.
- Margarida! Pois era?... - O reitor suspendeu-se, antes de concluir, como se um pensamento súbito lhe ocorrera. - Não pode ser, não pode ser. - E aproximando-se de Margarida, tomou-lhe o braço com energia, bradando-lhe: - Que quer dizer isto, minha filha? Que fazes tu aqui?
Margarida juntou as mãos e, olhando para o reitor com expressão particular, respondeu:
- Peço misericórdia!
- Para que culpa, minha filha?! - perguntou o padre, que não tirava os olhos dela.
- Para a minha...
- Para a... Entendo! - disse ele, como falando para si. - E devo eu consentir que?.