As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 35: XXXV Pág. 251 / 332

Foi então que Margarida correu, que a arrastou nos braços para longe daquele sítio, e depois, sacrificando a sua reputação ao futuro da irmã, veio aos pés de Pedro, como a verdadeira culpada.

O conceito que Pedro formava do carácter de Margarida não o tinha deixado imaginar sequer que pudesse ser ela a que aceitara a entrevista com o irmão. Apesar de todo o seu amor por Clara, era maior ainda a confiança que depositava em Margarida.

O que viu depois espantou-o, mas deu-lhe grande alívio.

Clara ignorou tudo quanto ultimamente se passara, pois, durante todo esse tempo, não recuperara os sentidos. A noite toda levou-a num quase delírio, no qual imaginava ver Pedro e Daniel, travando uma luta fratricida.

Margarida, velando à cabeceira da doente, torcia as mãos de desespero.

- Meu Deus! meu Deus! - dizia ela. - Se lhe não passa este delírio, tudo está perdido. Pedro saberá a verdade.

Pela madrugada, porém, Clara sossegou; um sono reparador acalmou-lhe a febre e, após ele, só lhe ficou o abatimento e a palidez geral, que denunciavam a crise terrível que tinha vencido.

Margarida, ao despertar do sono, também inquieto, por que mal passara, encontrou-a acordada e já aparentemente tranquila.

Receando renovar-lhe a crise, em nada lhe falou. Clara olhava-a em silêncio, mas como que não ousava também interrogá-la.

Afinal fez um esforço, fitou na irmã os olhos, arrasados de lágrimas, e disse com desalento:

- Tudo está acabado! De hoje em diante, todos me apontarão ao dedo e me chamarão uma rapariga perdida.

Margarida não pôde também reprimir as lágrimas.

- Que estas a dizer, Clarinha? Foi mau o passo que deste, foi; mas sossega. Eu que te ouvi, sei que estás inocente.

- Ouviste?

- Tudo. Eu sabia.





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