As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 6: VI Pág. 31 / 332

VI

E ainda bem não tinha decorrido uma semana, depois do que referimos, já o pequeno Daniel era transportado para o Porto na melhor égua da casa, em conformidade com o plano traçado pelo reitor.

O rapaz chorou muito ao partir. O pai sensibilizou-se, mas foi dominando a sua comoção conforme pôde.

Daniel entrou na Cidade Invicta com poucas disposições de se lhe afeiçoar. Matavam-no saudades da terra, da família, e mais do que todas as da sua pequena Guida, de quem nem ao menos lhe tinha sido possível despedir-se, pois nem para isso lhe haviam dado ensejo.

Desde a tarde, em que fora surpreendido pelo reitor no inocente colóquio, que tanto escandalizou o bom do pároco, nunca mais a tornara a ver, nem dela ouvira falar. Somente, ao despedir-se do seu mestre, este lhe disse, afagando-o nas faces, e sorrindo afavelmente:

- «Vai, que eu continuarei com a lição da tua discípula». - Daniel não pôde responder e partiu. Mas, ao sumirem-se atrás de si as copas das árvores, a cuja sombra o esperava talvez Margarida, borbulhavam-lhe as lágrimas dos olhos. Pobre criança!

E Margarida?... Essa mais pungentes sentia ainda as saudades.

Sempre assim acontece. Em todas as separações, tem mais amargo quinhão de dores, o que fica, do que o que vai partir. A este esperam- no novos lugares, novas cenas, novas pessoas; sobretudo espera-o o atractivo do desconhecido, que de antemão lhe absorve quase todos os pensamentos. Vai experimentar outras sensações, e, à força de distrair os sentidos, é raro que não acabe por distrair o coração. Mas ao que fica... lá estão todos os objectos que vê a recordarem- lhe as venturas que perdeu; ali, as flores que colheram juntos, para as trocar depois; acolá, a árvore, a cuja sombra se





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