As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 7: VII Pág. 41 / 332

Novos sinais de aprovação das mulheres, os quais estimularam a emulação de Pedro. Ele respondeu:


Pois o sofrer em silêncio
É um dobrado sofrer;
Melhor é contarmos tudo
A quem nos possa entender.

Esta quadra ainda produziu mais efeito, do que as precedentes - graças à insinuação que nela se fazia, e tendências que mostrava para dar novo carácter ao desafio.

Clara aceitou a direcção que lhe era indicada assim, e respondeu:


A quem me possa entender
Tudo eu quisera contar;
Mas os amigos são raros,
Não sei onde os encontrar.

E logo Pedro:


Encontra-os a cada canto
Quem os quiser procurar;
E um dos mais verdadeiros
Aqui te está a escutar.

Chegadas as coisas a este ponto, o combate prolongou-se por bastante tempo, sustentando de parte a parte com igual denodo e perícia. No entretanto a roupa ia-se lavando e o milho achava-se quase todo ceifado. Os contendores, cada vez mais próximos, pareciam cada vez mais de coração empenhados na luta. Mas tudo tem um fim neste mundo.

Com as respectivas tarefas, terminou a justa, ficando ambos os campeões vencidos um por o outro, pois ambos se reconheciam já seriamente apaixonados.

Pedro passou as canas do milho para o carro, Clara meteu a roupa na canastra e puseram-se a caminho. Encontraram-se na ponte e travaram então um diálogo em prosa, que foi a confirmação de quanto, em verso, tinham dito já. E daí se originou uma afeição mútua, que, desde o princípio, assumiu em Pedro carácter mais grave e prometedor de bons resultados, do que as antecedentes.

O reitor, que andava sempre com os olhos em cima do rapaz, disse-lhe dias depois:

- Lembra-te dos meus conselhos, Pedro. Não vás mais longe.

Fica por onde estás, que não ficas mal.





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