As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 11: XI Pág. 70 / 332

- Que não há doenças! Essa lá me custa a engolir! Então para que andou o rapaz a estudar, e o que vem fazer para cá, se não há doenças? Faz favor de me dizer?

- Ele não disse que...

Mas João da Esquina estava muito ofendido nas suas crenças, para o deixar continuar.

- Que não há doenças! Sempre é uma, a falar a verdade! Não, não há! Que diabo viu ele então no hospital? Ora essa e que disseram os... os mestres a isso?

- É o que eu estou morto por lhe perguntar. Mas o Sr. João admira-se? e então se eu lhe disser que ele provou também que um homem é a mesma coisa que um macaco?

João da Esquina fechou com impetuosidade o livro dos assentos.

- Irra! Está a caçoar comigo, Sr. José? Ele podia lá dizer semelhante coisa!

- Pergunte-o ao Sr. Reitor, que assim o explicou; pergunte se não acredita.

- Eu não, pois... Macaco! Então eu sou macaco? Então vossemecê é macaco? Então ele é macaco? Então nós somos... Ora, isso não pode ser.

- Você, Sr. João, cuida que eles entendem as coisas assim como nós. Isso tem lá outro sentido.

- Outro sentido! Que diabo de sentido há-de ter? Todos sabem o que é um homem, todos sabem o que é um macaco. Não vejo que outro sentido seja. Macaco!... Irra! Não, essa agora é que me não entra cá.

- Ele, salvo seja - observou José das Dornas, rindo - aqueles diabos parecem às vezes mesmo gente, lá isso parecem; o Sr. João nunca os viu?

- Vi, vi; tenho visto muitos.

- Olhe que fazem coisas! que, fora a alma, já se sabe...

- Pois sim; mas o... mas a cauda?

- Ah! lá isso... - respondeu o lavrador embaraçado.

- Ora então, aí tem - disse João da Esquina com um ar triunfante, capaz de fulminar Lamarck.

- Deixe ver se me lembro de outras que ele provou...

- Não, essa já não é má! Mas, ó Sr.





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