- Ora essa, vizinho! Palavra, que sim.
- Macacos! o rapaz não estava em si decerto. Macacos! Mas então que queria ele dizer afinal? Pois nós somos macacos, Sr.
José? ora diga.
- Não sei. Eles lá o lêem, lá o entendem.
- Vão para o diabo. Bem me importa a mim o que eles lêem e o que eles entendem. Não está má essa! Macacos!
Durante este solilóquio de João da Esquina, fazia José das Dornas por lembrar-se de mais outras das proposições, que publicamente sustentara seu filho, perante o júri escolar.
- Ah! é verdade - exclamou afinal. - Esta também lhe vai fazer mossa. Já estou vendo... Diz que sustentou lá também que a gente, verdadeiramente, devia andar com as mãos pelo chão.
O gesto do tendeiro foi tão violento, que José das Dornas acrescentou, como correctivo:
- Ele não diz isto bem assim, mas lá por umas outras palavras, que eu não tinha entendido, mas que o Sr. Reitor explicou.
João da Esquina conservava sobre José das Dornas um olhar desconfiado.
- Vai-me parecendo que o Sr. José tem estado, mas é, a caçoar comigo.
- Ó homem! Com verdade com que eu falo, assim Deus salve a minha alma.
- Então com que havemos de andar a quatro como, com sua licença, as cavalgaduras?
- Não; ele tanto não quer dizer.
- Não quer? mas se ele diz...
E os dois olhavam-se embaraçados. José das Dornas não podia resignar-se a tirar a consequência, um tanto dura, formulada pelo tendeiro; mas também não lhe ocorria escápula razoável. João da Esquina aguardava em vão a resposta.
Afinal, José das Dornas saiu-se de entre as duas pontas dilemáticas deste «diz e não diz», graças à evasiva costumada em casos tais.
- Homem, eles lá sabem o que querem dizer na sua.
- Eu julgo que não é necessário ser grande doutor para entender isso.