As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 12: XII Pág. 78 / 332

O reitor voltou-se de novo para os jogadores, ainda silenciosos:

- Chego ao meio de vós com as mãos e algibeiras vazias. Vede.

O dinheiro, com que saí de casa, ficou-me por esses caminhos, algum nas casas de muitos dos que vejo agora aqui. A esses não estou disposto a perdoar a dívida, pois vejo que não precisavam da esmola, que eu lhes dei; os outros, que têm para perder no pecado, também o hão-de ter para obra de misericórdia ou tisnada trazem já a alma, pelo fogo do inferno. Tenho ainda muitos pobres para ver, e não trago já dinheiro comigo. Peço esmola para os pobres - prosseguiu o reitor em voz alta, e aproximando-se da mesa - quem não dará aqui esmola para os pobres? - Amanhã, continuando vós nesta vida, eu pedirei também esmola para vós. Lembrai-vos disso.

E a um por um estendia o chapéu, fitando-os com um gesto de nobre e composta severidade.

O respeito, que lhes impunha a figura do ancião, pedindo desinteressadamente para a pobreza, e, em muitos, a voz da consciência coroaram do melhor êxito a inspiração do pároco.

Houve quem lhe despejasse no chapéu todo o dinheiro, que tinha diante de si.

Um só não correspondia ao pedido.

O reitor fitou-o com semblante austero:

- E tu?

- Não tenho nada - respondeu este homem com ar abatido - perdi e devo.

- Não tens nada! - redarguiu o padre com amargura - tens, sim; tens cinco filhos e uma velha mãe moribunda.

O homem cobriu o rosto, para ocultar as lágrimas.

- A que vem este choro, agora? Pois julgavas tu que matarias a fome à tua família por esta maneira? Para que te deu Deus os braços robustos, homem, e peito valente, se os negas ao trabalho? - E, voltando-se para os jogadores que sabia mais abastados, prosseguiu com maior veemência:





Os capítulos deste livro