- E vós tivestes alma para vos entregardes a este jogo danado com um homem, que punha em cima da mesa o pão e o sangue dos seus filhos e de sua mãe! Vergonha e desgraça sobre vós, miseráveis, se dentro de um dia não compensardes o mal que fizestes, abrindo por vossas mãos a este pai e filho desnaturado a carreira do trabalho, que é da honra igualmente - dentro de um dia, como podeis e deveis. Eu vos forçarei a isso. Homens, que tão bem servis para perder, servi um dia ao menos para salvar. Não podes pagar?... Alguém pagará a tua parte.
- Não pode pagar, não - confirmou o taberneiro - que a mim me deve ele uma conta, e não pequena, de vinho.
- Ah, sim? - disse o reitor, voltando-se para o da observação.
- Pois hás-de ser tu o que pagarás a parte dele. Ainda não deste nada. Dá-me a sua dívida.
- Mas, Sr. Reitor... - balbuciou o taberneiro.
- Consideras-te mais do que os outros? só se for por seres o mais culpado.
- Não, senhor... De boa vontade lha perdoo; lá por isso... - E acrescentou, falando consigo, o taberneiro: - Não cedo grande coisa, que por perdida a tinha eu há muito.
Depois desta abundante colheita, o reitor continuou:
- Compensem ao menos com esta boa acção o pensamento diabólico, que vos juntou aqui. E agora ide para vossas casas, e para o trabalho. Lembrai-vos que mal vai à família, e à fazenda do que se esquece na taberna assim; e retenha-vos essa lembrança, se ainda não tendes endurecido o coração. O que entra rico nestas casas, sai a pedir; se entrar pobre, sai criminoso. Ide. Fugi às tentações destes inimigos - isto dizia tomando as cartas da mesa - e fazei como eu quando as tiverdes à mão. - E, com um rápido movimento do braço, fez voar todo o baralho até ao fogo, que em pouco tempo o reduziu a cinzas.