O Ingénuo - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 9 / 91

O hurão, chamado o Ingénuo, é reconhecido por seus parentes

O Ingénuo, segundo o seu costume, acordou com o sol, ao cantar do galo, que é chamado na Inglaterra e na Hurônia a trombeta do dia. Não era como a gente da alta; que enlanguesce num preguiçoso leito, até que o sol haja feito metade do seu curso, que não pode nem dormir nem levantar-se, que perde tantas horas preciosas nesse estado intermediário entre a vida e a morte, e ainda se queixa de que a vida é demasiado curta.

Já fizera duas ou três léguas, tendo abatido, a funda, umas trinta peças de caça, quando, ao regressar, encontrou o prior de Nossa Senhora da Montanha e sua discreta irmã, que passeavam de touca de dormir pelo seu pequeno jardim. Apresentou-lhes a sua caça e, tirando da camisa uma espécie de talismã que trazia sempre ao pescoço, pediu-lhes que o aceitassem como agradecimento pela sua boa recepção.

- É o que eu tenho de mais precioso - lhes disse ele. Asseguraram-me que eu seria sempre feliz enquanto o usasse. E assim lhes faço este presente, para que sejam sempre felizes.

O prior e sua irmã sorriram comovidos ante a simplicidade do Ingénuo. O referido presente consistia em dois pequenos retratos muito mal feitos, unidos por uma correia bastante sebenta

A senhorita de Kerkabon perguntou-lhe se havia pintores na Hurônia.

- Não - disse o Ingénuo, - esta raridade me veio de parte de minha ama; o seu marido a adquirira por conquista, despojando alguns franceses do Canadá que haviam travado batalha connosco.





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