Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 17: CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE

Página 117
liteira, autorizado a enclaustrá-la no mosteiro mais ajustado ao intento, combinando-se em Lisboa com o seu solicitador de causas, sujeito com família, em cujo grémio Ricardina havia de ser depositada sem dizer de quem era sobrinha, para obstar a esclarecimentos prejudiciais à dignidade de todos e à admissão no mosteiro. Nem esta condição ignominiosa rebateu a quebrantada senhora.

Há uma espécie de insensibilidade, que, ao meu juízo, é o existir intermédio da demência e da morte. A noite, que se faz na alma, não tem orvalho de lágrimas. Sente-se o peso do coração, é bronze que está dentro a estalar as fibras sobre que pesa; mas palpitações não dá nenhuma. O espírito estremece de agonias, que mais parecem paroxismos do arranque final que dilacerações morais. Nesta rara espécie de desgraça, os enfermos estão sempre inclinando-se maquinalmente para a terra, pensando que a terra lhes entremostra o leito do repouso eterno. Tanto lhes faz Deus como lhes fez até àquele derradeiro degrau, donde não há olhos que O contemplem. A Providência perdeu já a força de se fazer sentir. Os que aí chegaram já tinham visto a sua fé conculcada a pés de verdugos, que se dispensavam .de temor divino ao apertarem a corda da asfixia. Se o morrer é beneficência celestial, não há aí outra por amor da qual os desamparados devam pôr as mãos agradecidas. Os que não blasfemam, chegados tão abaixo, são anjos.

Perdoem-me as pessoas muito espirituais, se eu creio enganadamente que a santificação começa na hora em que o padecer amordaça a oração nos lábios, e da tempestade interna já nem sequer relampeja esperança do Céu, nem revérbero das fogueiras inconsumptíveis do Inferno.

<< Página Anterior

pág. 117 (Capítulo 17)

Página Seguinte >>

Capa do livro O Retrato de Ricardina
Páginas: 178
Página atual: 117

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
CAPÍTULO I - O ABADE DE ESPINHO 1
CAPÍTULO II - UM AMIGO! 9
CAPÍTULO III – REAÇÕES 12
CAPÍTULO IV - BERNARDO MONIZ 19
CAPÍTULO V - MÃE E FILHA 25
CAPÍTULO VI – AGONIAS 32
CAPÍTULO VII - O QUE ELA PEDIA A JESUS 39
CAPÍTULO VIII - O BEM-FAZER DA MORTE 45
CAPÍTULO IX - ATÉ QUE ENFIM! 52
CAPÍTULO X - A SORTE 59
CAPÍTULO XI - MEMÓRIAS DOLOROSAS 66
CAPÍTULO XII – ESPERANÇAS 75
CAPÍTULO XIII - NORBERTO CALVO 80
CAPÍTULO XIV - PLANOS DO ABADE 88
CAPÍTULO XV - COMO O SENTIMENTO DA GRATIDÃO FEZ UM TIGRE 94
CAPÍTULO XVI - E O SOL NASCIA FORMOSO! 104
CAPÍTULO XVII - ENTRE A DEMÊNCIA E A MORTE 112
CAPÍTULO XVIII - O QUE FEZ A IGNORÂNCIA DO ESTILO FIGURADO 118
CAPÍTULO XIX - TÁBUA DE SALVAÇÃO 122
CAPÍTULO XX - OBRAS DO TEMPO 125
CAPÍTULO XXI - VANTAGENS DE CINCO PRÉMIOS 132
CAPÍTULO XXII - OS “DEZ-RÉIS” DA VISCONDESSA 136
CAPÍTULO XXIII - A RODA DA FORTUNA 141
CAPÍTULO XXIV - A NETA DO ABADE DE ESPINHO 147
CAPÍTULO XXV - O CORAÇÃO NÃO SE REGULA PELAS LEIS VISIGÓTICAS 156
CAPÍTULO XXVI - O REPATRIADO 161
CAPÍTULO XXVII - O RETRATO DE RICARDINA 166
CAPÍTULO XXVIII - ENFIM... 171
CAPÍTULO XXVIII – CONCLUSÃO 177