Apocalipse - Cap. 24: Capítulo 24 Pág. 176 / 180

Quando o indivíduo ama, deixa de ser puramente individual. E é pois obrigado a recuperar-se a si próprio, e a deixar de amar. Esta é uma das mais assombrosas lições do nosso tempo: o indivíduo, o cristão, o democrata, não podem amar. Ou, quando ele, quando ela amam, será necessário que ele, que ela, se recuperem.

Isto no que respeita ao amor pessoal ou privado. Mas o que se passará com o outro amor «caritas», com aquele «amai o próximo como a vós mesmos»?

Funciona de maneira idêntica. Amemos o próximo: de imediato correremos o risco de ser absorvidos por ele; teremos de recuar, teremos de defender-nos. O amor transforma-se em resistência. Tudo acaba por ser resistência e não amor; é esta a história da democracia.

Se escolhermos o caminho da auto-realização individual, será melhor fazer como Buda e fugirmos, sermos nós e não pensarmos em mais ninguém. Desta forma alcançaremos o nosso Nirvana. Amar o próximo à maneira de Cristo conduz à hedionda anomalia que é termos de acabar por viver numa consumada resistência ao nosso próximo.

O Apocalipse, estranho livro, torna isto claro. Mostra-nos o cristão na sua relação com o Estado; coisa que os Evangelhos e as Epístolas evitam fazer.





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