Leia-se Lucrécio para entender contra o que Epicuro fez guerra — não contra o paganismo, mas contra o “cristianismo”, isto é, a corrupção das almas através dos conceitos de culpa, punição e imortalidade. — Combateu os cultos subterrâneos, todo o cristianismo latente — naquele tempo negar a imortalidade já era uma verdadeira salvação. — E Epicuro havia triunfado, todo intelecto respeitável em Roma era epicúreo — foi quando Paulo apareceu... Paulo, o ódio de chandala encarnado, inspirado pelo gênio, contra Roma, contra “o mundo” — o judeu, o judeu eterno
par excellence... O que ele percebeu foi como, com a ajuda de um pequeno movimento sectário cristão, à parte do judaísmo, uma “conflagração mundial” poderia ser acesa; percebeu como, com o símbolo do “Deus na cruz”, poderia condensar todas as sedições secretas, todos os frutos das intrigas anárquicas, em um imenso poder. “A salvação vem dos judeus” — cristianismo é a fórmula para sobrepor e agregar os cultos subterrâneos de todas variedades, por exemplo, o de Osíris, da Grande Mãe, de Mitra: era nisso que consistia o gênio de Paulo. Seu instinto estava tão seguro disso que, com ousada violência contra a verdade, colocou as ideias que fascinavam toda espécie de chandala na boca de sua invenção, do “salvador”, e não apenas na boca — fez dele algo que até os sacerdotes de Mitra podiam entender... Foi esta sua revelação em Damasco: compreendeu que precisava da crença na imortalidade para despojar o valor do “mundo”, que a ideia de “inferno” dominaria Roma — que a noção de um “além” significa a morte da vida. Niilista e cristão: são coisas que rimam, e não somente rimam...