Cobria os ombros com uma confusão de farrapos e um velho chapéu de castor, todo amolgado, com a aba descaída, escondia-lhe o rosto; mas, quando o retirava descobria, no sítio das Pálpebras, duas órbitas esbugalhadas, cheias de sangue. A carne desfazia-se erro; pedaços vermelhos, donde escorria um líquido que coalhava em crostas esverdeadas até ao nariz, cujas ventas escuras fungavam conclusivamente Para falar, inclinava a cabeça para trás com um riso idiota; então, as pupilas azuladas, revolvendo-se num movimento contínuo, passavam, junto das fontes, pelo bordo da chaga viva.
Punha-se a cantar uma cançoneta atrás das carruagens:
Quantas vezes um belo dia de calor Fez sonhar as meninas com o amor!
E tudo o resto falava só de passarinhos, de sol e da folhagem.
Às vezes aparecia repentinamente atrás de Emma, com a cabeça descoberta. Ela retirava-se com um grito. Hivert galho fava com ele. Sugeriaque alugasse uma barraca na feira de Saint-Rornain, ou então, a rir, perguntava-lhe pela namorada.
Frequentemente, com a carruagem em andamento, o seu chapéu entrava com um gesto brusco pelo postigo, enquanto com o outro braço
se segurava sobre o estribo, entre os salpicos das rodas. A voz, a príncipe débil e gemida, tornava-se depois aguda. Arrastava-se no meio da noite como o indistinto lamento duma angústia vaga; e, através do som dos guizos, do murmúrio das árvores e do estardalhaço da carripana vazia, ti qualquer coisa de longínquo que perturbava Emma. Descia-lhe até fundo da alma como um turbilhão num abismo e arrebatava-a por en os espaços duma melancolia sem limites. Mas Hivert, notando o contra peso, atirava às cegas fortes chicotadas naquela direcção. A ponta do c cote fustigava as chagas do desgraçado e este caía na lama soltando um ruído.