VIII Emma perguntava a si mesma, enquanto caminhava: «O que lhe irei dizer? Por onde hei-de começar?» E, à medida que avançava, reconhecia os arbustos, as árvores, os juncos sobre a colina, o castelo lá adiante. Voltava a encontrar as sensações da sua primeira ternura e o pobre coração oprimido dilatava-se nelas amorosamente. Soprava-lhe no rosto uma aragem tépida; a neve, derretendo-se, caía gota a gota dos rebentos sobre a erva.
Entrou, como dantes, pela pequena porta do parque, chegando depois ao pátio nobre, orlado por uma dupla fileira de tílias frondosas, que baloiçavam, assobiando, os seus longos ramos. Os cães no canil ladraram todos, e todo aquele ladrar ecoou sem que ninguém aparecesse.
Subiu o grande lance de escadas, com balaústres de madeira, que conduziam ao corredor com lajes empoeiradas, para onde dava uma fila de quartos, como nos mosteiros ou nas estalagens. O dele ficava no extremo, ao fundo, do lado esquerdo. Quando pôs os dedos no fecho da porta, sentiu subitamente que todas as forças a abandonavam. Tinha medo de que ele lá não estivesse, mas quase desejava que assim fosse, apesar de ser a sua única esperança, a última hipótese de salvação. Concentrou-se um minuto e, retemperando a coragem no sentimento da necessidade presente, entrou.
Ele estava em frente à lareira, com os dois pés sobre o anteparo, a fumar uma cachimbada.
- Oh!, é a senhora... - exclamou, levantando-se repentinamente.
- Sim, sou eu!... Queria, Rodolphe, pedir-lhe um conselho.
E, apesar de todos os esforços, não conseguia descerrar os lábios.
- Não mudou nada; continua encantadora como sempre!
- Oh! - retorquiu ela amargamente -, são tristes encantos, meu amigo, visto que os desdenhou.
Então Rodolphe começou uma explicação da sua conduta, desculpando-se em termos vagos, por não poder inventar coisa melhor.