Um certo fascínio o atraía. Subia constantemente a escada.
Punha-se na frente dela para a ver melhor e perdia-se naquela contemplação, que, à força de ser profunda, deixara de ser dolorosa.
Lembrava-se das histórias de catalepsia, dos milagres do magnetismo, e dizia para si mesmo que, desejando-o de uma maneira extrema, talvez conseguisse ressuscitá-la. Uma vez até se inclinou para ela e disse em voz baixa: «Emma! Emma!» E o seu hálito, expelido com força, fez estremecer a chama dos círios junto à parede.
Ao amanhecer chegou a Sr. Bovary sogra; Charles, quando a beijou, teve um novo acesso de choro. Ela procurou, como tentara o farmacêutico, fazer-lhe algumas observações sobre as despesas do enterro. Ficou de tal maneira exaltado que ela se calou, e foi até encarregada por ele de se dirigir imediatamente à cidade para comprar o que fosse necessário.
Charles ficou sozinho durante toda a tarde: tinham levado Berthe para casa da Se Homais; Félicité conservou-se em cima, no quarto, com a Tia Lefrançois.
À noite teve visitas. Levantava-se, apertava as mãos sem poder falar; depois iam-se sentando uns ao lado dos outros, formando um grande semicírculo em volta da chaminé. De cabeça baixa e perna traçada, abanavam o pé, soltando de quando em quando um fundo suspiro; todos se sentiam tremendamente enfadados, mas ninguém se dispunha a abandonar o seu posto.
Homais, quando apareceu novamente às nove horas (há dois dias que não se via mais ninguém na praça senão ele), vinha carregado com uma provisão de cânfora, benjoim e ervas aromáticas. Trazia também um frasco cheio de cloro, para banir os miasmas. Na altura, a criada, a Sr, Lefrançois e a mãe Bovary giravam em volta de Emma, acabando de a vestir; e estenderam o comprido véu retesado que a cobriu toda até aos sapatos de cetim.