As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 19: XIX Pág. 132 / 332

Depois de o Miguel se retirar, Joana continuou:

- Esse homem, por quem pedem, foi mestre delas. Pelos modos era pessoa que teve de seu; mas hoje está quase a pedir. Para aí veio, e aí tem vivido. As raparigas do Meadas, que são dois corações de anjos - lá isso são - têm-no socorrido sempre. Coitadas! Não, eu devo dizer o que é verdade, o seu Pedro leva uma mulher como se quer; mas olhe quem levar a Margarida não vai mais mal servido.

Este pobre homem tem-lhe ensinado, em paga, a ler e a escrever, que é um primor, segundo dizem. A Margarida, principalmente; porque pelos modos, a Clarita tem menos paciência. Mas a Margarida?... até cá o Sr. João Semana o diz, pode-se ouvir. Agora até ela dá lição em casa. Não sabia? Pois dá. Ora, o tal pobre de Cristo está a morrer, e, segundo diz o patrão, não deita o mês fora.

As raparigas então, credo! isso é um cuidado por aí além, nem que fossem filhas. Mas o que eu não sei é se o Sr. João lá irá hoje. Fica- -lhe tão longe do seu giro!

- Mas há-de deixar o homem assim?

- Então? Cada um faz aquilo que pode, que a mais não é obrigado.

Olhe... sabe o que me lembra? Porque não vai o menino lá?

Não diz que quer ajudar o Sr. João Semana? Pois aí tem.

- Para você me ficar depois com zanga.

- Credo! Zanga não; eu só dizia que... Demais, isto não lhe rende cinco réis. Bem vê o que ela diz: A consciência é que paga.

Ora eu bem sei que as pequenas quiseram pagar, quiseram; cá o patrão é que não deixou. Não sei se fez bem, porque afinal... elas têm por onde paguem. Mas vá, vá. Além de que...

- Eu por mim vou; não me custa; mas se o seu amo se ofende?

- Não; não ofende; amanhã ele irá. Demais, as raparigas são agora quase da família do menino! é natural que o procurem primeiro.





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