- Pois então nem espero que ele acorde. Você diz-lhe...
- Sim, sim; não tenha dúvida; eu cá lhe digo.
E, chamando outra vez Daniel, que ia a retirar-se, continuou:
- E então, olhe. Também pode fazer-nos ainda outro favor. Eu tenho, desde esta manhã, um recado para o Sr. João Semana ir a casa do João da Esquina, lá do seu vizinho da tenda. Não lho dei, porque enfim... hoje ficava-lhe bastante longe, e, aqui para nós, não andam muito em dia as contas com o tendeiro; como ao menino lhe fica perto de casa, se não lhe custasse, ia por lá.
- Também irei, o ponto está que o homem me queira.
- Se não quiser que mande fazer um de encomenda. Era o que faltava! Já vê que eu não tenho nenhuma má vontade contra o menino; até lhe dou freguesia.
Daniel agradeceu os dois fregueses, que a velha Joana lhe cedera, com poucos auspícios de lucros, e saiu sem esperar que o seu velho colega acordasse.
A pressa com que Daniel saiu, e a felicidade em aceder à proposta de Joana, tinham um motivo. E aí estamos nós, para o explicar, a referirmo-nos outra vez ao carácter do nosso herói.
A carta de Margarida falara-lhe à imaginação. Achou-a tão singular, na sua simplicidade, para ser escrita por uma rapariga da aldeia, que não pôde eximir-se de fantasiar um tipo de romance, o qual logo suspirou por conhecer.
Seguindo as instruções de Joana, Daniel pôde, dentro de um quarto de hora, achar-se à cabeceira do enfermo, para quem se pedira o socorro de João Semana.
Mas, contrariamente ao que esperava, foi Clara e não Margarida quem ele encontrou ali.