As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 32: XXXII Pág. 230 / 332

Tinham razão eles, tinham; agora o vejo; e este meu génio é que me podia perder. Se por mim não é bastante pedir-lhe, peço-lhe por seu irmão, por seu pai, por si mesmo, que assim anda a perder o crédito de um nome, que nenhum dos seus nunca deixou de honrar.

- Está sendo muito cruel para mim, Clara. Concordo que fui imprudente, inconsiderado, mas... Confesso-lhe que a impressão que me causou e que me causa...

- Sr. Daniel, eu não quero saber os seus segredos. Deixe-me retirar.

- Pois bem, será esta a última vez que a procuro, que lhe falo até, que a vejo, se tanto exigir de mim; mas ao menos desta vez há-de escutar-me.

- Mas para que preciso eu escutá-lo? - dizia Clara, assustada pelo tom de exaltação em que ele lhe falava.

Daniel continuou:

- Todos só têm palavras para me censurar, e ninguém há-de ver um dia claro no meu coração? Ninguém, melhor do que eu, conhece a fraqueza ingénita deste carácter, que não sabe lutar; mas o que eu não sei, o que eu peço que me digam é o remédio para este mal. Clara, não procure fugir, sem ouvir-me. Retirar-se-ia, supondo-me pior do que sou; como todos os que me conhecem. Eu quero que ao menos uma pessoa saiba a verdade a meu respeito.

Escute.

E, ao dizer isto, segurava no braço de Clara, que tremia de inquietação.

Neste momento, os passos de uma cavalgadura a trote rasgado soaram próximos, no caminho que vinha terminar defronte do lugar onde esta cena se passava.

Clara não pôde reprimir um grito de susto.

- Jesus, que estou perdida! - exclamou ela, e soltando o braço, que Daniel lhe segurava ainda, fugiu na direcção de casa.

Antes, porém, de transpor a esquina, que a devia ocultar às vistas de quem quer que era que se aproximava, e de conseguir fugir pela porta do quintal, o cavaleiro, tendo-a avistado e conhecido, bradava rijo:

- Ó Clara! Clarita! Rapariga! Ó pequena! Psiu! Eh! Onde vais com essas pressas! Não são os franceses, sossega.





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