O Ingénuo - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 11 / 91

Beijavam-no a chorar; e o Ingénuo ria, sem poder imaginar como é que um hurão poderia ser sobrinho de um prior da Baixa Bretanha.

Acorreram todos; o senhor de St. Yves, que era grande fisionomista, comparou os dois retratos com o rosto do Ingénuo; notou habilmente que ele tinha os olhos da mãe, a testa e o nariz do falecido capitão de Kerkabon, e as faces de ambos. A senhorita de St. Yves, que jamais vira o pai nem a mãe, assegurou que o Ingénuo se lhes assemelhava perfeitamente. Admiravam todos a Providência e o encadeamento dos sucessos deste mundo. Estavam enfim tão persuadidos, tão convictos da origem do Ingénuo, que ele próprio assentiu em ser sobrinho do senhor prior, dizendo que gostaria tanto de o ter por tio como a qualquer outro.

Foram agradecer a Deus na igreja de Nossa Senhora da Montanha, enquanto o hurão, com um ar indiferente, divertia-se em beber em casa.

Os ingleses que o tinham trazido, e que estavam prestes a zarpar, vieram dizer-lhe que era tempo de partir.

- Pelo que vejo - lhes disse o hurão, - vocês não encontraram os seus tios: eu fico por aqui; voltem para Plymouth; dou-lhes de presente todos os meus trapos; não tenho necessidade de mais nada no mundo, pois sou sobrinho de um prior.

Os ingleses velejaram, pouco se lhes dando que o hurão tivesse ou não parentes na Baixa Bretanha.

Depois que o tio, a tia e todas as visitas cantaram o Te Deum; depois que o bailio encheu o Ingénuo de novas perguntas; depois que esgotaram tudo o que o espanto, a alegria e a ternura podem fazer dizer, o prior da Montanha e o padre de St. Yves resolveram batizá-lo o mais depressa possível.





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