O Ingénuo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 7 / 91

Ela perseguia um dia uma lebre pelas vizinhanças, a cerca de cinquenta léguas da nossa casa. Um algonquino mal educado, que habitava cem léguas além, veto arrebatar-lhe a sua lebre; mal o soube, acorri, derrubei o algonquino com um golpe de maça, amarrei-o e fui depô-lo aos pés de Abacaba. Os pais de Abacaba queriam comê-lo; mas nunca me agradei dessa espécie de festins; restitui-lhe a liberdade e fiz dele um amigo. Abacaba ficou tão impressionada com a minha ação, que me preferiu a todos os seus pretendentes. E ainda me amaria, se não tivesse sido devorada por um urso. Castiguei o urso, usei durante muito tempo a sua pele, mas isso não me consolou.

A senhorita de St. Yves sentia um secreto prazer ao ouvir que o Ingénuo só tivera uma bem-amada e que Abacaba não mais existia; mas não discernia a causa de seu prazer. Todos fixavam os olhos no Ingénuo; louvavam-no muito por não haver permitido que os seus camaradas comessem um algonquino.

O implacável bailio, incapaz de reprimir o seu furor inquisitivo, levou a curiosidade ao ponto de se informar qual era a religião do senhor hurão; se havia escolhido a religião anglicana, ou a galicana, ou a huguenote.

- Eu sou da minha religião - disse ele - como o senhor é da sua.

- Ah! - exclamou a Kerkabon - bem se vê que esses engraçados ingleses nem ao menos pensaram em batizá-lo.

- Meu Deus! - dizia a senhorita de St. Yves - como é possível que os hurões não sejam católicos? Será que os RR.PP jesuítas não os converteram a todos?





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