O Ingénuo - Cap. 19: Capítulo 19 Pág. 82 / 91

Agora não se ocupava senão dela; só se falava da felicidade que ambos mereciam; combinavam viver todos juntos em Paris, faziam projetos de fortuna e engrandecimento, entregavam-se a todas essas esperanças que o mínimo lampejo de ventura faz brotar com tamanha facilidade.

Mas o Ingénuo, no íntimo, experimentava um sentimento que repelia essa ilusão. Relia as promessas assinadas por St. Pouange, e as nomeações assinadas por Louvois. Descreveram-lhe esses homens tais como eram, ou como os julgavam. Todos se referiram aos ministros e ao ministério com essa "liberdade de mesa" considerada em França como a mais preciosa liberdade que se possa gozar sobre a face da terra.

- Se eu fosse rei de França - disse o Ingénuo, - eis como escolheria o ministro da guerra: havia de ser um homem do mais alto nascimento, pois assim daria ordens à nobreza. Desejaria que fosse ele próprio oficial, que tivesse percorrido todos os postos, que fosse pelo menos tenente-general e digno de ser marechal de França; pois não é necessário ter servido, para melhor conhecer todos os detalhes do serviço' E os oficiais não obedecem mil vezes com mais disposição a um militar que se haja, como eles, assinalado pela coragem, do que a um homem de gabinete que, quando muito, só pode adivinhar as operações de uma campanha, por mais inteligente que seja? Não me incomodaria se o meu ministro fosse generoso, embora isso, às vezes, embaraçasse um pouco o meu tesoureiro real. Gostaria que trabalhasse com facilidade e que se distinguisse por essa alegria de espírito, apanágio de um homem superior, tão do agrado da nação e que torna todos os deveres menos penosos.





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