Parece que a História só agrada como nos agrada a tragédia, que aborrece quando não é animada pelas paixões, os crimes, e os grandes infortúnios. E preciso armar a Clio de um punhal, como Melpómene.
Embora seja a história da França tão cheia de horrores como todas as outras, pareceu-lhe, no entanto, tão enfadonha no princípio, tão seca no meio, tão pequena enfim, mesmo no tempo de Henrique IV, tão desprovida sempre de grandes momentos, tão estranha a essas belas descobertas que ilustraram outras nações, que se via obrigado a lutar contra o tédio para ler todos aqueles detalhes de obscuras calamidades delimitadas num canto do mundo.
Gordon pensava como ele. Riam ambos de piedade ante aqueles soberanos de Fezensac, de Fezensaguet e de Astarac. Tal estudo, enfim, só aproveitaria aos herdeiros destes, se os tivessem. Os belos séculos da república romana deixaram-no por algum tempo indiferente ao resto da terra. O espetáculo da Roma vitoriosa e legisladora das nações ocupava-lhe a alma inteira. Arrebatava-se ao contemplar aquele povo que foi governado setecentos anos pelo entusiasmo da liberdade e da glória.
Assim se passavam os dias, as semanas, os meses; e ele até se julgaria feliz na morada do desespero, se não amasse.
Sua bondosa alma enternecia-se à lembrança do prior e da sensível Kerkabon. "Que pensarão eles - repetia seguidamente, - sem notícias minhas? Hão de julgar-me um ingrato". Esse pensamento atormentava-o; lamentava aqueles que o amavam, muito mais do que a si mesmo.