Tal questão evidentemente se ligava à origem do bem e do mal; e o pobre Gordon punha-se então a passar em revista o cofre de Pandora, o ovo de Orosmade furado por Arimânio, a inimizade entre Tífon e Osíris, e enfim o pecado original; e ambos corriam nessa noite profunda, sem jamais se encontrarem um ao outro. Mas afinal aquele romance da alma lhes desviava o espírito da contemplação da sua própria miséria; e, por um estranho encantamento, a multidão das calamidades esparsas no universo diminuía a sensação das suas penas: não ousavam queixar-se quando tudo sofria.
Mas, no descanso da noite, a imagem da bela St. Yves apagava no espírito de seu enamorado todas as ideias de metafísica e de moral. Ele acordava com os olhos húmidos de lágrimas. E o velho jansenista esquecia a sua graça eficaz e o abade de Saint Cyran e Jansenius, para consolar um jovem a quem supunha em pecado mortal.
Depois de lerem, de discutirem, tornavam a falar de suas aventuras; e depois de terem falado inutilmente sobre elas, punham-se a ler juntos ou separadamente. Cada vez mais se fortalecia o espírito do jovem. E iria muito longe em matemática, se não fossem as distrações que lhe causava a senhorita de St Yves.
Leu livros de História, que o entristeceram. O mundo lhe pareceu demasiado mau e demasiado miserável. A História, com efeito, não é mais que o quadro dos crimes e das desgraças. A multidão de homens inocentes e pacíficos sempre se apaga nesse vasto cenário. Os principais papéis estão com os O ambiciosos e os perversos.