O Ingénuo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 5 / 91

Não houve quem não se comovesse, e todos repetiam: Nem pai nem mãe!

- Nós lhe serviremos de pai e mãe - disse a dona da casa ao prior. - Como é interessante esse senhor hurão!

O Ingénuo agradeceu-lhe com uma nobre e altiva cordialidade, e deu-lhe a entender que não tinha necessidade de coisa alguma.

- Vejo, senhor Ingénuo - disse o grave bailio, - que o seu francês é excelente para um hurão.

- Um francês - disse ele que os hurões haviam aprisionado quando eu era pequenino, e a quem dediquei grande amizade, ensinou-me a sua língua; aprendo muito depressa o que quero aprender. Ao chegar em Plymouth, encontrei um desses refugiados franceses a que chamam huguenotes, não sei por quê; fiz com ele alguns progressos no conhecimento de vossa língua e, logo que me pude exprimir inteligivelmente, vim visitar o vosso país, pois aprecio bastante os franceses quando eles não fazem muitas perguntas.

O abade de St. Yves, apesar dessa pequena advertência, perguntou-lhe qual das três línguas preferia: o hurão, o inglês, ou o francês.

- O hurão, sem dúvida nenhuma.

- Será possível? - exclamou a senhorita de Kerkabon. - Eu sempre julguei que o francês fosse a mais bela de todas as línguas, depois do baixo-bretão.

Choveram então as perguntas. Como se dizia fumo em hurão? Taya, respondia o Ingénuo. Como se dizia comer? Essenter, respondia ele. A senhorita de Kerkabon fez absoluta questão de saber como se dizia amar; ele respondeu que isso era trovander, e sustentou, não sem razão, que tais palavras nada ficavam a dever às suas correspondentes em francês e inglês.





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