O Ingénuo - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 87 / 91

Terminava a carta com a lisonjeira esperança de que todas as damas da Corte se apressariam em chamar o seu sobrinho ao toucador, e que várias dentre elas lhe diriam: "Bom dia, senhor Ingénuo"; e que seguramente falariam a seu respeito durante a ceia do rei. A carta vinha assinada: Seu afeiçoado Vadbled, irmão jesuíta.

Tendo o prior lido a carta em voz alta, o sobrinho, furioso, e retendo um momento a cólera, nada disse ao portador, mas, voltando-se para o seu companheiro de infortúnio, perguntou-lhe o que pensava daquele estilo. Gordon lhe respondeu: "É que tratam os homens como macacos: batem-lhes e fazem-nos dançar" O Ingénuo, recuperando o antigo gênio, que volta sempre nas grandes comoções, rasgou a carta em pedaços e lançou-os à cara do portador: "Eis a minha resposta". O tio espantado, julgou ver o raio e vinte cartas-de-prego tombarem-lhe em cima. Foi logo escrever, desculpando, como podia, aquilo que ele tomava como um arrebatamento de moço, mas que era o desabafo incontido de uma grande alma. No entretanto, mais dolorosos cuidados se apossavam de todos os corações. A bela e desgraçada St. Yves sentia já aproximar-se o fim; estava tranquila, mas dessa terrível tranquilidade da natureza exausta que não têm mais forças para combater.

- Ó meu querido - disse ela com voz desfalecente, - a morte me castiga pela minha fraqueza; mas expiro com o consolo de saber-te livre. Eu te adorei quando te traía, e adoro-te quando te digo o adeus eterno.





Os capítulos deste livro