O Ingénuo - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 88 / 91

Não ostentava uma vã firmeza; não tinha essa miserável vaidade de fazer com que alguns vizinhos comentassem; "Ela morreu corajosamente". Quem é que pode, aos vinte anos, perder sem pesar e sofrimento, o seu amado, a sua vida, e aquilo a que chamam a honra? Sentia todo o horror do seu estado, e fazia-o sentir com essas palavra, e olhares moribundos que falam com tanto império. Chorava, enfim, como os outros, nos momentos em que tinha forças para fazê-lo. Louvem outros a morte faustosa daqueles que entram com toda a insensibilidade no aniquilamento: é a sorte de todos os animais. Só morremos com a sua mesma indiferença quando a idade ou a doença nos torna semelhantes a eles devido à estupidez de nossos sentidos. Quem quer que sofra uma grande perda, sente-o imensamente; se abafa o seu pesar, é que leva a vaidade até os braços da morte.

Chegado o fatal instante, todos os assistentes romperam em lágrimas e ais. O Ingénuo perdeu os sentidos. As almas fortes tem reações muito mais violentas que as outras quando se comovem. O bom Gordon, que muito bem o conhecia, temia que ele se matasse, ao voltar a si. Afastaram de seu alcance todas as armas; o infeliz o percebeu; e disse a seus parentes e a Gordon, sem chorar, sem gemer, sem alterar-se:

- Pensam então que existe alguém no mundo que tenha o direito e o poder de me impedir que eu acabe com a vida?





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