O Ingénuo - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 89 / 91

Gordon não procurou impingir-lhe esses fastidiosos lugares-comuns com os quais tentam provar que não devemos a usar da própria liberdade para deixar a vida quando nos sentimos horrivelmente mal e que não é licito abandonarmos a própria casa quando esta se torna inabitável, e que o homem está no mundo como um soldado no seu posto: como se importasse ao ser dos seres que a assembleia de algumas partes de matéria estivesse num lugar ou noutro; impotentes razões que um desespero firme e refletido desdenha ouvir, e às quais Catão só respondeu com um punhal.

O terrível silêncio do Ingénuo, seus olhos sombrios, seus lábios trementes, os frêmitos de seu corpo, incutiam, na alma de todos aqueles que o contemplavam, essa mescla de compaixão e terror que encadeia a alma, que impede a palavra e só se manifesta por frases entrecortadas. A dona da casa e sua família haviam acorrido; tremiam de seu desespero, guardavam-no à vista, observavam-lhe todos os movimentos. Já o corpo gelado da bela St. Yves fora carregado para longe dos olhos do Ingénuo, que ainda parecia procurá-la, embora não estivesse em condições de distinguir o que quer que fosse.

Em meio desse fúnebre espetáculo, enquanto se acha o corpo exposto à porta da casa, e dois padres, junto a uma pia, recitam orações com ar distraído, enquanto alguns passantes, por ociosidade, lançam água benta sobre a eça e outros prosseguem indiferentemente o seu caminho, enquanto os parentes choram e um noivo está prestes a matar-se, chega St. Pouange com a amiga de Versalhes.

Sua passageira inclinação, apenas uma vez satisfeita, transformara-se em amor.





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