Encostou-se ao batente da porta, trocou um lance de olhos com o veríssimo, e saiu apressadamente, arranjando pelo caminho uma fisionomia cheia de alvoroço, de surpresa.
Entrou pela residência, muito esbofado:
- O abade, já esteve na eira do Gonçalves?
- Não; estou a acabar de jantar, e lá vou ver essa borracheira de comédia. Você vem aganado!
- Vinha perguntar-lhe se conhece um sujeito de fora que lá está na eira.
- Aqui veio um rapazola da póvoa pedir-me uma cadeira há coisa de meia hora para um fidalgo que tinha vindo com ele. Perguntei-lhe quem era o fidalgo. Diz que não sabe. Esta canalha em vendo um bigorrilhas de casaco chama-lhe fidalgo.
- Venha já daí comigo. Por quem é, não se demore... O abade, lembra-se de ver el-rei em braga há treze anos?
- Ora se lembro!... Beijei-lhe a mão três vezes.
- E, se o vir agora, conhece-o?
- Parece-me que sim - o padre limpava à pressa os beiços amarelos dos ovos do arroz - doce. - mas isso que quer dizer? Você está doido, ou temos carraspana, amigo nunes?
- Homem! Venha comigo, e depois chame-me doido ou borrachão, lá como quiser; mas não se demore que eu estou em brasas vivas.
- Aí vou, aí vou, não se atrigue. Vai uma pinga do choco?
- Venha de lá isso. - bebeu de um trago, e pediu outro: - agora, à saúde de el-rei! À saúde daquele que talvez esteja bem perto de nós! A cem passos!
- Toque! - exclamou o abade.
Pelo caminho, disse-lhe o nunes que era preciso o maior disfarce, não olhar muito de frente para ele, e só deviam falar-lhe se a ocasião viesse muito a jeito.
- Você está a sonhar, homem!
Quando entraram à eira, já tinia começado a festa. Veríssimo estava em pé, com a mão direita apoiada nas costas da cadeira. De um e de outro lado remexia-se