Se o homem não caísse, ninguém se ria.
- Provavelmente... - assentiu o veríssimo, correspondendo à cortesia do Torcato nunes, que parecia aproximar-se mais acanhado. - estes casos de escorregar - acrescentou o desconhecido - acontecem nos primeiros teatros do mundo e até nas salas onde se dança; e de ordinário as senhoras que desastradamente caem, são verdadeiras senhoras é muito pior e mais melindroso.
O abade e o nunes com muitos gestos afirmativos - que sim, que era muito pior, e mais melindroso, muito mais.
Derivou a conversação para as belezas naturais do Minho. O desconhecido sentia ter vindo no inverno, quando apenas se adivinhavam as pompas da primavera.
Principiava a chuviscar. O abade ofereceu a sua casa ao forasteiro, enquanto não estiava a chuva. Veríssimo aceitou por momentos, visto que não se prevenira com guarda-chuva - um traste que detestava. Os aguaceiros repetiram-se com pequenas intercadências, varejados pelo sul; por fim, as cristas da serrania empardeceram, as nuvens rolavam pelos declives como escarcéus a despenharem-se, fechou-se o horizonte sem uma nesga, e a chuva não parava. O abade não permitiu que o hóspede saísse com tal tempo e já perto da noite.
Durante a ceia, apareceram algumas raparigas mascaradas com lençóis, abraçando a senhorinha que servia à mesa, e dizendo em falsete pilhérias ao nunes, a quem chamavam trocatles e procurador de causas perdidas. Veríssimo mostrava-se contente e dizia:
- Bom povo! Excelente povo! Este Minho é o bom coração de Portugal, e os seus habitantes, segundo me consta, possuem os melhores corações do reino. Eram dignos de ser mais felizes do que são, carregados por tributos, esmagados pelo peso dos empregados públicos, que são o flagelo de Portugal..
O padre escutava-o com religiosa atenção; o nunes beliscava a coxa do abade, que tomam a presidência da mesa e pusera o hóspede à sua direita.