No fim da ceia, o padre marcos, com o copo na mão, e de pé, disse que fazia uma saúde ao seu hóspede, porque lhe parecia que tinha a honra de beber à saúde de um realista, de um partidário da sua majestade o Sr. D. Miguel I, que deus guardasse! O hóspede agradeceu, declarando que mesmo numa roda de liberais não negada os seus sentimentos políticos: que era realista, e como tal brindava à saúde de todos os amigos do príncipe proscrito.
O nunes dava canelões inteligentes e às vezes dolorosos no abade, que o encarava de esconso como quem diz: - percebo; não faça de mim asno; sei que estou falando com el-rei.
A criada deu parte que estava pronta a cama.
- Quando vossoria quiser - disse ela ao hóspede.
Veríssimo sorriu-se agradavelmente:
- Que incómodo estou dando a esta excelente família... Irei descansar, senhor abade, e Sr. Torcato... Parece-me que lhe ouvi chamar Torcato.
- Nunes elas, um criado de vossa... - e susteve-se.
Dizia-lhe depois o abade no quinteiro:
- Você ia-se estendendo, nunes! Esteve por um triz a dizer, um criado da vossa majestade, não esteve?
- Por um triz, abade, que me estendia! Tal é a certeza de que está el-rei nesta casa! - e com transporte, olhando para as janelas: - onde está pernoitando o Sr. D. Miguel I! O rei amado dos portugueses, na pobre residência de são Gens de calvos! Isto parece um sonho!
A segunda-feira de entrudo foi um chover desabalado. Não houve entremez nem se via viva alma no cruzeiro. O abade não consentiu que o hóspede se retirasse; e, aconselhado por nunes, mandou à póvoa buscar a bagagem. Era um baú de lata amolgado na tampa, com um cadeado roído de ferrugem. O legitimista ainda não tinha dado nome algum, nem os outros ousavam abrir oportunidade a que ele tivesse de o inventar, seria indelicadeza obrigado a mentir.