Os desembargadores, com o seu rapé engatilhado aos narizes, riram muito do final do acórdão, e, sorvidas as pitadas sibilantes, assinaram por unanimidade.
Reformada a sentença e pagas as custas pelo juiz da primeira instância, veríssimo foi posto em liberdade; e, quando chegou ao escritório do carcereiro melo para se despedir, encontrou a Libânia de covas desmaiada de júbilo, nos braços da mulher do chaveiro. Como era feliz, deixou - se ser mulher - chorou; e quando lhe cumpria dar ânimo ao preso, no pátio do governo civil, riu - se com a valentia dos homens extraordinários.
O conselheiro leite recomendou ao munes procurador que lhe mandasse a casa o veríssimo. O filho de Norberto apresentou-se timorato, receoso, com maneiras submissas, mas dignas de um Borges camelo infeliz.
O desembargador explicou-lhe que o chamara para lhe fazer conhecer a dívida que lhe pagou, posto que as situações fossem muito diversas. Improperou-lhe serenamente o seu delito; estigmatizou a ação de permitir que o julgassem D. Miguel; falou acerbamente contra este tirano parricida, incestuoso, canalha, e terminou por lhe aconselhar o trilho da honra, o trabalho, e a expiação das suas irregularidades, mostrando-se digno da compaixão que lhe inspirara, despronunciando-o. Veríssimo beijou-lhe a mão, e recusou dez pintos que o conselheiro lhe dava - que, se um dia necessitasse, lhos pediria. E o Fortunato leite, a rir:
- Então as bestas dos abades sempre caíram? Fez você muito bem. Devia esfolar essas carruagens!
O veríssimo recuava muito agradecido.
O conselheiro Fortunato exerceu uma enérgica influência vitalizadora na nova encerebração de Veríssimo Borges e bastante na do Torcato Munes Elias.
Por mediação do bondoso desembargador, obteve o nunes alvará de solicitador de causas nos auditórios do porto.