- Que te leve o diabo! - resmungava o Simeão, riçando freneticamente as suíças. Depois voltava manso e velhaco à beira do leito: - olha, menina, teu tio está velho e esmagriçado. Aquilo não pode ir longe. Tu ficas para aí podre de rica, e podes casar depois com um fidalgo, se quiseres...
- Valha-me nossa senhora! - murmurava marta, pondo os olhos na litografia da mãe de jesus traspassada das sete espadas. - quem me dera morrer...
A tísica do José dias com as frialdades húmidas de Novembro entrou no segundo período. Recrudesceram as dores de peito e a dispneia, com acessos febris noturnos. Expetoração esverdeada com estrias amarelas, e extrema magreza com repugnância a todo o alimento. Pela auscultação ouvia-se-lhe o som gargarejado do fervor cavernoso. Os médicos disseram ao pai que o tirasse de braga, das incomodidades da estalagem, e o levasse para casa, onde lhe seria mais suave a morte na sua cama, com a assistência da família. Foi para Vilalva transportado numa liteira, e dizia ao pai que se sentia melhor, que respirava mais desafogado; e que, se há mais tempo tivessem saído de braga, já ele estaria rijo.
A mãe, quando o viu entrar tão acabado, tão desfigurado, fez um berreiro descomunal, e não teve mão em si que não rogasse pragas à marta, que lhe matara o seu querido filhinho. As vizinhas concordavam: - que diabos levasse a mulher que o tolhera!
O doente afligia-se, chorava como criança, e pedia ao pai que o deixasse ir para Caldelas, para casa do seu amigo; que não podia ver a mãe; que lha tirasse de diante dos olhos; e que, se ele tivesse de morrer, que lha não deixassem ir à beira da sua cama. E fazia trejeitos furiosos, com os olhos a estalar das órbitas escavadas, incendido pela febre.
Chegou o padre Osório, e o doente aplacou-se sob as consolações calmantes do seu santo amigo.