Deitou-se, com promessa de ir no dia seguinte para Caldelas; mas nunca mais se levantou, nem fez inúteis esforços.
Osório não o desamparou. Ia à sua igreja dizer a missa dominical e voltava para Vilalva com as respostas de marta aos bilhetes que José lhe escrevia - poucas linhas em que ainda por vezes lampejavam alegres esperanças.
Toda a influência de Osório não conseguiu que o enfermo recebesse a mãe no seu quarto. Não lhe podia perdoar o ódio que ela tinha a marta; e bradava que a fazia responsável perante deus da desonra da desgraçada menina. A velha escutava estes tremendos emprazamentos para a eternidade, e dizia de si consigo, a beata: - bem me fio eu nisso.
Por fim, já não podia escrever, nem levantar a cabeça no travesseiro; mas perguntava ao Osório se tinha notícias de marta; que pedisse ao irmão que fosse lá, e lhe dissesse que ele estava mais doente e não podia escrever.
Um desses recados motivou o bilhete que se copiou na introdução deste livro, e que o moribundo já não pôde ler. Desde que a mãe lhe meteu à força dentro do quarto o vigário com a extrema-unção, um homem de opa com a campainha, outro com a água benta na caldeirinha, mais dois com tochas, e outros com a sua devota curiosidade, o moribundo caiu na modorra comatosa, e apenas, com longos espaços, tinha mis acessos sibilantes de ligeira tosse seca. Abria então os olhos, que fitava no rosto de Osório, e às vezes circunvagava-os espavoridos como em busca da visão espectral da mãe, que o vigário de Caldelas cuidadosamente e com doloroso constrangimento defendia de entrar à alcova.
Em Prazins ouvia-se dobrar a defunto em Vilalva. Marta perguntou ao pai quem tinha morrido.
Ele respondeu serenamente:
- Dizem que foi o dias que está com deus. Reza-lhe por alma, que é o que ele precisa agora.