.. Que leve o diabo tudo... - e, passados alguns segundos de recolhida angústia: - veja você, sor pai! O Simeão dá-me a filha, depois diz que ma não dá; isto não se fazia a um homem que põe navalha na cara... Eu levava a minha vida muito direita, estava muito bem, você bem sabe; deitei-me a trabalhar quanto podia; e vai depois, por causa da minha paixão, fiquei areado do juízo, deixei a arte, andei por esse mundo a gastar à minha custa, ao frio e ao calor, em términos de me levar o diabo com uma bala; e vai agora o Simeão entra-me pela porta dentro, leva-me as armas, e, se me pilha, metia-me uma baioneta no corpo...
- Homem - atalhou o pai com juízo - não fosses tu lá a Prazins embirrar com o brasileiro...
- Eu tenho a minha paixão - objetou o filho com transporte - tinha cá dentro do peito esta navalha de ponta espetada; e ele... Que mal lhe fiz eu para me querer mal?... Sabe você que mais?... Assim como assim, estou perdido...
Saiu arrebatadamente e foi para o monte Córdova conversar com o patarro, um velho celerado que se batera em braga com a cavalaria do casal e pudera salvar-se com o sacrifício de três dedos e do nariz acutilados.
Na semana seguinte, quarta-feira, era o mercado de Famalicão. O regedor tinha comprado duas juntas de bois para o caseiro da retorta, uma quinta solarenga, torreada, com o brasão dos brandões, que o brasileiro comprara a um fidalgo de afife. O negócio deitara a tarde. Simeão saíra ao desfazer da feira com o caseiro da retorta e mais dois lavradores de outra freguesia que montavam éguas andadeiras de muitos brios. O Simeão cavalgava a sua velha ruça, de uma pachorra mansa, invulnerável à espora. Recebia as chibatadas encolhendo os quadris e andando para trás. Ela não podia manifestar de um modo mais sensível a sua repugnância pelas pressas.