O dono gabava-se de só ter caído juntamente com ela poucas vezes. Saíram da feira conversando a respeito de marta. Constava aos outros que ela se quisera matar à conta do José dias. O Simeão achava que sim, que ela quisera atirar-se ao rio; mas que estava quase boa em Caldelas; que o vigário e mais a irmã lhe tinham dado um jeito ao miolo; e logo que ela estivesse fina, casava com o tio.
- E ele quere-la? - perguntou o bento de penso.
- Pois então!... Tomara-a ele já.
- Enfim - disse o bento - você há de perdoar que eu lhe diga o que tenho cá no sentido. O povo diz que o dias entrava lá de noite. Eu não vi, mas é o que diz o povo. Ora um homem sempre se atriga de casar com mulher de maus credos. O seu brasileiro pelos modos é de bom comer...
- Tem bom estômago, é o que é - confirmou o belchior da Rechousa.
O Simeão não estranhava estas franquezas muito triviais nas aldeias ainda imaculadas do resguardo das conveniências; mas defendia a honra da filha, atribuindo ao Zeferino as calúnias que espalhava para se vingar.
- Enfim - disse o belchior - você tinha-lha dado por quinze centos. É o que diz o povo, e palavra d'homem não torna atrás.
- Isso cá da minha parte foi chalaça... - defendia-se o Simeão, quando três homens, mascarados com lenços, fincando as argolas dos paus no caminho, saltaram de uma ribanceira, à frente das três éguas que caminhavam a passo. Um dos três jogou uma paulada à cabeça do Simeão e derrubou-o.
Os dois lavradores das éguas travadas deram de calcanhares e pareciam dois duendes de comédia mágica vistos à luz crepuscular. O caseiro abandonou as sogas dos bois, galgou paredes e searas em desapoderada fuga até Famalicão, e à entrada da vila gritou - aqui d'el-rei ladrões! Contou o sucesso ao povo alvorotado, acudiu a autoridade, encheu-se a estrada de gente em cata de Simeão e da malta dos ladrões.