O cirurgião saiu desconfiado do ferimento. Uma das pauladas despegara um pedaço de tegumento, deixando descoberto o crânio, que o ferrador da terra negra chamara o miolo. A hemorragia era grande, e havia receio de comoção cerebral. O facultativo, depois de o sangrar, mandou-lhe pôr panos molhados na cabeça, de quarto em quarto de hora. Marta e teresa não abandonaram um momento o catre do enfermo; o padre Osório passou a noite na saleta atendendo o brasileiro que lhe falava muito na sobrinha, na paixão que ela tivera pelo José dias, e não lho levava a mal, pelo contrário.
Aí pela madrugada o ferido sentiu-se muito angustiado, tinha estremecimentos, dizia disparates; queria arrancar os pachos da cabeça, bracejava, e puxava para o peito a face da filha lavada em lágrimas. O padre acudiu e mais o Feliciano; receavam que ele estivesse agonizando. Depois aquela agitação esmoreceu num dormitar sobressaltado, com a cabeça no regaço de marta, que brandamente lhe compunha o pacho da ferida. Quando espertou da modorra conheceu a filha, e repeliu-a. Falou no pedreiro que o matara, e recaiu no estado comatoso. O padre Osório atribuía aquela sonolência a derramamento de sangue no crânio, um sintoma de morte provável. O cirurgião veio de madrugada, mandou-lhe deitar sanguessugas atrás das orelhas, e disse ao vigário de Caldelas que estava mal-encarado o negócio; que aquele diabo de sono lhe parecia de mau agouro. Que ia ver uns doentes e voltava logo.
Marta fazia muitas promessas à senhora da saúde; dez voltas de joelhos ao redor da sua capela, um resplendor de prata, jejuar a pão e água seis meses a fio, não comer carne durante um ano, ir descalça à romaria da milagrosa senhora. Com estas promessas sentia-se menos oprimida do seu remorso; o pai estava ali a morrer por causa dela, e a maria de Vilalva já dizia também que fora ela a causa da morte do seu filho.