Uma desgraçada, que vinha assim a causar a morte do noivo e do pai.
O ferido teve uma intermitência de repousada vigília. Olhou para a filha, e disse-lhe que morria, que a deixava sem pai nem mãe. O Feliciano acudiu:
- Isso não lhe dê preocupação, mano Simeão. Nada lhe há de faltar. É minha sobrinha; não tenho mais ninguém neste mundo.
- Eu morria contente - balbuciou o Simeão lacrimoso - se ela fosse sua mulher...
Fez-se um silêncio esquisito. Marta abaixou os olhos; a D. Teresa olhou para o irmão a ver o que ele dizia; o padre Osório olhava para o brasileiro a ver como se expressavam as suas ideias; o Feliciano esperava que os outros dissessem alguma coisa. E então o pai de marta, aconchegando-a de si, com muita ternura:
- Casas com o teu tio, minha filha? É o último pedido que te faço...
Marta fez um gesto afirmativo, e caiu de joelhos, curvada sobre o leito, a soluçar; depois, deu um grito e escorregou para o chão, em convulsões, com o rosto muito escarlate e a boca a espumar. D. Teresa e o irmão conduziram-na ao seu quarto. Deitaram-na já sossegada, mas numa rigidez insensível, com a boca ligeiramente toda.
O cirurgião chegava nesta conjuntura e disse que a rapariga herdara a moléstia da mãe, que eram ataques epiléticos; e ao tio Feliciano disse-lhe particularmente que o pior da herança não era a epilepsia; era a demência que levou a mãe ao suicídio. Que a rapariga era fraca, e tinha sido criada com umas mimalhices de menina da cidade, que estragam o corpo e a alma; que era preciso ter muito cuidado com ela, não a afligir, distraí - la, casada, enfim, que seria bom casá-la, e dar-lhe vinagre a cheirar, quando viesse outro ataque, e ter cuidado que ela não apanhasse a língua entre os dentes; que lhe metessem um pano entre os dois queixos, quando lhe desse outro ataque.