brasileiro pôs o monóculo e leu um bilhete pregado na porta com quatro tachas: domingo, às 10 da manhã, depois da missa, vai à praça a quem mais der sobre a avaliação judicial de 500$000 réis esta casa, dízima a deus, para partilhas. O Feliciano leu, retirou-se apressado para que o não vissem, murmurando quaisquer palavras a que o compadre melro respondeu:
- Vossoria então está a ler! Tão certo tivesse eu o céu como tenho a casa...
Feliciano seguiu para Prazins e o melro disse aos fregueses da taverna que o seu compadre ia comprar a quinta da comenda, e que estivera a ler o escrito da casa do cambado que se vendia, e dissera que talvez a comprasse para a dar a um afilhado...
- Ao teu pequeno?! - perguntavam.
- Pois a quem há de ser! Aquilo é que é um homem às direitas!
- Ele não sabe o que tem de seu. Tanto lhe monta dar-te a casa como a mim pagar-te um quarteirão de aguardente - encareceu um pedreiro. - Anda agora a trabalhar no palácio da retorta. Que riqueza! Parece um mosteiro. Pelos modos vai para lá viver logo que case com a marta. Lá o mestre Zeferino rebenta que o leva os diabos! Isso diz que dá cada arranco...
- O Zeferino, a falar a verdade, tem razão - disse o melro. - o Simeão tinha-lha prometido. Gente sem palavra que a leve o diabo! Eu, se fosse comigo... Mas, enfim, é irmão do meu compadre... Não devo dizer nada. Que se governem.
O melro, às 8 da noite, quando os fregueses desalojaram, fechou a taverna; e, espreitando se os pequenos dormiam, disse à mulher:
- A casa do cambado é nossa, mas é preciso vindimar o Zeferino...
- Credo! - exclamou a mulher com as mãos na cabeça. - nossa senhora nos acuda!
- Leva rumar! - e punha o dedo no nariz.
- Ó Joaquim, ó marido da minha alma, lembra-te dos três anos que penaste na cadeia! Olha para aqueles quatro filhos!.