Capítulo 19: CAPÍTULO XVIII
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Ai! Amado do meu coração, se as admirações do que sois abrasam a alma, que vos vê por enigmas, que será quando vos vir claramente! Os seus olhos são como pombas sobre correntes de águas, mansos, puros, suaves, benignos, amorosos. Que majestosos, que humildes, que graves, que serenos, que doces, que suaves! Oh dulcíssimo amor, já que tanto fechais os olhos para não serem vistos, ao menos não os fecheis para me não verem! As suas faces são como canteiros de flores aromáticas, sempre belas, sempre cheirosas; passam os dias, os meses e os anos, e os séculos, e as faces do meu amor sempre são flores, nem o sol as murcha, nem o frio as corta, nem a água as corrompe, nem o vento as desfolha; são rosas, são açucenas, são brancas e encarnadas. Oh! Quem me dera uma gota da água que as rega, um grão do calor que as vivifica; quem me dera que o jardineiro que as compõe me quisera semear umas flores no meu jardim e tomar à sua conta compô-las e regá-las, que o meu amado gosta muito de flores. Dizei-me, aves do ar, flores do campo, peixes do mar, viventes da terra, dizei-me se sabeis onde assiste este jardineiro. Mas que digo, se este mesmo é o amado a quem busco e não mereço achar! Ó saudade ardente, ó sede matadora, ó seta penetrante, ó amor escondido! Que fareis, senhor, que fareis, se o vosso empenho é ser amado, porque a minha ventura está em vos ter amor, como escondeis o mesmo que me havia de enamorar? Os seus lábios são lírios, que destilam mirra excelente, lírios de pureza de onde saem palavras que inflamam no amor da mortificação. Oh! Se fora tão ditosa minha alma que recebera alguma parte da mirra que destilam teus lírios! Oh! Se foram tão felizes meus olhos que viram a engraçada cor de tais lábios! Onde estais escondido, amado do meu
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Páginas: 202
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