João: omniaper ipsum facta sunt. Portanto, deus permite o mal? Logo: este mal é bom, porque deus é o sumo bem. Verdade é que os males não são bens...
- Ia eu dizer... - atalhou o padre Osório; ao que o missionário acudiu prestes e vitoriosamente:
- Mas deus tira os bens desses mesmos males, como diz S. Tomás: bonum invenire potest sitie maio, sed malum non potest invenire sine bono logo: deus permite o mal como causa do bem; id est, permite o demónio como exercitação saudável do género humano. Melius judicavit deus de malis bona facere, quam mala nulla esse permittere, diz S. Agostinho; e S. Tomás ainda é mais claro e persuasivo:
“a divina sabedoria permite que os demónios façam mal pelo bem que daí resulta.” divina sapientia permittit aliqua mala tieri per moios angelos propter bona quite ex eis elicit. São doze as causas porque deus permite que os demónios atormentem as criaturas humanas. Primeira: para que o homem obstinado na culpa seja neste mundo e no outro atormentado; segunda...
- Estou convencido, Sr. Frei João - atalhou o vigário - vossa reverência já esclareceu a minha dúvida. É o caso que deus permite demónios flagelantes para depurar com eles os pecadores - uns e outros criaturas da sua divina justiça.
- É isso mesmo.
- O espírito do mau homem - do pecador que é em si um demónio interno, depura-se pela ação de outro demónio externo, ambos criaturas do seu divino amor... Percebi. Estou convencido... Deus é como um pai que azorraga o seu filho querido a ver se ele recebe as mortificações como carícias. Rico pai! - e acrescentou com amargura: - ah! Meu frei João, receio muito que as superstições venham a desabar o catolicismo que deve a sua existência à vitória que alcançou sobre as mentiras da idolatria com as armas da verdade.