Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 20: CAPÍTULO XIX

Página 185
Ego sum veritas.

Frei João ia fulminar segunda vez a argumentação do padre Osório, quando os outros missionários chegavam, para assistirem ao jantar de despedida em casa da brasileira.

Fechara-se a missão; os padres iam dali para Barcelos; mas frei João, empenhado em desendemoninhar a pobre marta, hospedou-se na quinta da revolta, em cuja capela celebrava missa e confessava as suas filhas espirituais insaciáveis do pão dos anjos, que digeriam numa vadiagem dorminhoca, amesendadas nos adros das igrejas e nos soalheiros, catando as próprias pulgas e as vidas alheias.

Frei João andava apercebido com todos os utensílios infestos ao diabo. Resolvido a dar-lhe batalha, armou a energúmena das mais provadas armas nos seus triunfos sobre o inferno. Lançou - lhe ao pescoço um santo lenho, um breve da marca, a verónica de S. Bento, o símbolo de santo Atanásio, cruzinhas de Jerusalém, verónica com a cabeça de santo anastácio, relíquias de vários santos, umas esquírolas de ossos grudadas em farrapinhos, orações manuscritas da lavra do varatojano, metidas em saquinhos surrados da transpiração de outras obsessas.

Marta devia jejuar, como preparatório. Parece que o demónio se compraz de habitar estômagos confortados na quentura do bolo alimentício. O exorcista jejuava também conforme o preceito dos praxistas, e aconselhava ao Feliciano que jejuasse, em harmonia com o texto de jesus que dissera pela boca de S. Mateus que “tais diabos - sem jejum nem oração - saíam do corpo”: hoc genus demioniorum in nullo potest exire nisi oratione a jejuino. O Feliciano dizia que sim, que jejuava; mas, às escondidas do frade, comia bifes de presunto com ovos; começava a revelar ideias egoístas, um cuidado da sua alimentação e do seu repouso, certo desprezo cínico pela parte que o diabo tomara na sua família.

<< Página Anterior

pág. 185 (Capítulo 20)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Brazileira de Prazins
Páginas: 202
Página atual: 185

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 21
CAPÍTULO IV 32
CAPÍTULO V 46
CAPÍTULO VI 52
CAPÍTULO VII 59
CAPÍTULO VIII 67
CAPÍTULO IX 74
CAPÍTULO X 84
CAPÍTULO XI 101
CAPÍTULO XII 113
CAPÍTULO XIII 121
CAPÍTULO XIV 130
CAPÍTULO XV 141
CAPÍTULO XVI 157
CAPÍTULO XVII 166
CAPÍTULO XVIII 173
CAPÍTULO XIX 182
CAPÍTULO XX 190
CONCLUSÃO 196